terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quando o negócio é de pai para filha


Por Luciele Velluto
Fonte: Jornal da Tarde


Quanto o fundador da Santa Cruz Fomento, Gastão Fráguas, de 65 anos, decidiu que era hora de desacelerar o ritmo de trabalho e aos poucos passar a empresa para um sucessor, surgiu a dúvida: quem assumiria a companhia de quase 30 anos no mercado de fomento mercantil no lugar dele? Uma das opções foi escolher entre os quatro filhos aquele que pudesse dar continuidade aos negócios.

Dos quatro herdeiros da Santa Cruz, apenas dois assumiram o projeto de aos poucos substituir o fundador e, entre eles, uma mulher: Maria Patrícia Fráguas, de 40 anos, a caçula da família. “Há três anos começamos o processo de profissionalização da sucessão. Ele (Gastão) quer aproveitar a vida e resolvemos assumir esse projeto. Eu assumi a parte administrativa e financeira da empresa e meu irmão a parte comercial”, conta ela, que está há 20 anos na empresa da família.

A experiência de Maria Patrícia é um exemplo d e uma maior presença das mulheres no mercado de trabalho e na sociedade: elas passam, cada vez mais, a ser a opção na hora de substituir o fundador da empresa. “Não é fácil, mesmo que o processo tenha sido natural por estar há tanto tempo na empresa e sempre procurar ter a capacitação necessária para assumir essa responsabilidade. Mas o mercado financeiro ainda é muito machista”, conta a gerente financeira da Santa Cruz.

O consultor empresarial especialista em sucessão, Domingos Ricca, da DS Consultoria, explica que há uma mudança de cultura entre os empresários e empresas familiares nos últimos dez anos e as mulheres passaram a concorrer diretamente com os homens na linha de sucessão das empresas.

“O fundador passou a enxergar o que era melhor para o futuro da empresa e as mulheres se mostraram mais interessadas pelo trabalho do pai e estar nesse processo. Hoje, elas concorrem de igual para igual com os homens, estão assumindo os negócios e mostrando mais garra e intuição na hora de administrar a companhia, que é o patrimônio da família”, diz.

A questão de as mulheres tomarem a frente dos negócios familiares ainda enfrenta o machismo tanto dentro de casa quanto do mercado. “Há muitas histórias de grandes empresas familiares em que vigora o mito de que a mulher não foi criada para isso, apenas para ser mãe e seguir o marido. Mas isso vem diminuindo, pois a mulher se preparou muito.

Desde que começou a trabalhar fora ela busca esse espaço”, diz Edison Cunha, sócio-diretor da ECunha Consultoria Empresarial.

Um dos casos acompanhados por Cunha, é de uma empresa na área de saúde que prepara os filhos para assumirem a empresa do pai. A expectativa é que a filha fique com a divisão farmacêutica do negócio, pois ela está se qualificando para ser a próxima gestora.

Para Sergio Diniz, consultor de gestão empresarial do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebra-SP), a mulher vem conquistando esse espaço e se tornou opção nos negócios da família por vontade própria.

“São gerações quebrando as barreiras do machismo, do preconceito. Ela começou a se impor e se mostrou empreendedora para até driblar esses obstáculos. E vem conseguindo cada vez mais espaço nas empresas familiares e tendo seu trabalho reconhecido pelos demais”, comenta.

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